Thiago me ligava com frequência pra ver se eu estava bem, ao menos ele ainda estava do meu lado. Já até tinha tentado me beijar mas eu ainda não estava preparada pra me entregar pra outro homem, era tudo recente e ele respeitava muito isso.
Nicole e Breno tinham ido pra casa dos avós pra almoçar com eles. Seu Amarildo ia fazer um churrasco onde comemorariam o sucesso que estava fazendo o novo CD do Luan. Eram só pros mais próximos e eles me ligaram insistindo pra que eu fosse mas eu não quis, não seria legal esbarrar no Luan, e eu ainda não estava preparada. Além disso,eu também não queria mas fazer ele sofrer.
Decidi fazer um almoço pra mim e pra não comer sozinha chamei o Thiago, em uma hora ele chegou em minha casa.
-Oi, tá tudo bem?
-Sim, e você- o cumprimentei com um beijo no rosto.
-Estou ótimo. Estava com saudades de você- alisou meu rosto e se aproximou, eu virei o rosto e ele sorriu sem jeito.- Já sei- falou e entrou.
-A comida já está pronta. Está com fome?
-Muita- disse passando a mão na barriga.
Almoçamos e em nenhum momento tocamos no assunto da minha separação. Ele fazia piadas pra tentar me animar e até que estava funcionando. Depois do almoço ele me ajudou a limpar tudo. Quando tudo estava limpo, fomos pra varanda comer doce.
-Como está sua tia?
-Ela está melhor. Estava conversando com a médica dela e ela me disse que ela pode voltar pra casa semana que vem.
-Nossa, que legal isso.
-Sim, esse tratamento que ela fez é realmente bom, muito caro, mas bom- sorri e ele riu junto.- Aliás, queria aproveitar e te agradecer por ter pago o tratamento dela. Não precisava.
-Fiz o que?- ele perguntou me encarando sem entender.
-Não foi você que pagou o tratamento dela?
-Não, eu doei uma quantia, mas ela não pagava o tratamento completo, como você mesma disse, é muito caro.- colocou a colher com doce na boca e me olhou sorrindo.
Comecei a olhar pro nada e parei pra pensar. Se não foi ela então.. Claro. Só podia ser o Luan!Quem mais faria isso por mim sem me amar de verdade, além de considerar e gostar da minha tia? E quem mais me amaria como ele no mundo? Capaz de fazer tudo pra me agradar? Que burra eu era! BURRA, MIL VEZES BURRA.
-Tanara, o que foi?
-Eu sou uma idiota
-Por que está falando isso?
-Eu afastei de mim a única pessoa capaz de me fazer feliz do mundo.
-Você tá falando do Luan? Mas.. pensei que gostasse de mim, que ficaríamos juntos.
-Isso tudo é um mal entendido. Eu não gosto de você Thiago, ou eu talvez goste, mas não o amo.
-Você ama o Luan?
-Eu não sei.- falei com vontade de chorar- Eu só sei... que eu sinto muito a falta dele.
-Mas..
-Thi, eu acho melhor você ir embora. Preciso pensar, ficar sozinha.
-Tem certeza?
-Tenho.
-Então tá. Qualquer coisa me liga- falou se levantando.
Levei ele até a porta e após nos despedirmos com um abraço subi até meu quarto.
Deitei na minha cama e comecei a ouvir música no celular, ouvir música me acalmava um pouco, e era isso que eu precisava. Na minha playlist tinha a discografia completa de Bruno e Marrone e eu coloquei pra tocar enquanto cantava junto. Quando chegou na música MEU JEITO DE SENTIR, parei pra prestar atenção na letra: "... Só você, só você que conhece meu jeito de sentir, meu jeito de sorrir até meu jeito de chorar. Só você me conhece amor. Só você, sabe bem quem sou."
De fato era assim comigo e Luan, só ele que me conhecia como ninguém, e que falta eu sentia dele... Uma falta que chegava a incomodar.
Desliguei a música e procurei seu número no meu celular. Eu queria ligar pra ele, mas me faltou coragem.
Levantei da cama e abri o guarda-roupa, que agora só estava preenchido com roupas minhas. Abri as gavetas onde ficavam suas cuecas e me deparei com um envelope. Peguei ele com um certo receio misturado a um pouco de curiosidade. Abri e vi que dentro tinha uma folha branca, quando a puxei reconheci a caligrafia usual dele, que eu particularmente sempre achei linda. Sem enrolação comecei a ler o que tinha escrito ali:
" Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, deve doer a cólica, assim como dói a cárie e a pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade da cidade onde nasceu, da jabuticabeira de Jaraguari, dos caranguejos que caçava com meu tio. No seu caso, saudade dos pais que morreram. Doem essas saudades todas.
Mas, a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia estar no quarto e eu na sala, sem nos vermos, mas eu sabia que estava ali. Você podia ir ao dentista e eu pro aeroporto, mas eu sabia onde estava.
Mas, quando o amor de um acaba,ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber se você continua se gripando no inverno. Não saber se continua alisando o cabelo pra sair. Não saber se aprendeu a estacionar no meio de dois carros, se continua preferindo guaraná, se continua sorrindo, se continua vendo Um Amor Para Recordar, se continua me amando...
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem os pensamentos, não saber como frear as lágrimas diante de uma música,não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se você está com outro, se ele te faz feliz, se meus filhos vão gostar dele, se está cada vez mais bela..
Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer."
Não sei que mágica, coisa do outro mundo, loucura, ou apenas intervenção de Deus fez uma chama começar a se acender em minha outra vez. Percebi pela data que ele havia escrito aquilo a muito tempo, mal ele sabia que se tivesse me entregue naquela época tudo teria sido diferente. Mas não importa,naquele momento percebi que tudo que se passava na minha cabeça era uma confusão sem sentido e que passaria, eu sei que passaria. Eu não podia mais ficar longe dele, eu não podia jogar ele no mundo cheia de mulheres que se jogariam aos seus pés, eu não podia deixar ele ficar com outra pessoa, amar outra pessoa, se entregar a outra pessoa. Eu não podia deixar ele seguir em frente e encontrar outra pessoa pra chamar de sua. Eu era dele, e ia ser pra sempre. Só dele.
Em meio a confusão com meus fantasmas interiores, que decidiam se aquele nosso fogo ainda queimava em mim, decidi que iria atrás dele.
Estacionei o carro em frente a casa dos seus pais e comecei a chorar incontrolavelmente, Breno estava na frente da casa brincando com os primos e correu pro carro assim que me viu.
-Você veio mãe- me abraçou- Que bom que a senhora veio.- abracei ele com força, era bom sentir meu filho me tratando bem depois de tanto tempo.- Tá tudo bem? Por que a senhora tá chorando?
-Eu tô bem, chama seu pai pra mim?
-Vamos lá comigo, mamãe- ele abriu um sorriso enorme e entrou na casa me puxando.
Cheguei na parte de trás da casa e vi que tinha uma roda formada como sempre acontecia. Luan estava com o violão na mão e logo começou a cantar:
Eu já fiz de tudo pra te convencer
Mandei rosas vermelhas lindas pra você
Falei de amor.
Fiz uma canção.
A lua se foi nem vi o sol chegar
Acreditei que o tempo não ia passar
Foi ilusão
Enquanto houver razões eu não vou desistir
Se for pra eu chorar quero chorar por ti
Porque não te esqueço
Vou te esperar passe o tempo que for
Deixe bem guardado esse nosso amor
Sei que eu te mereço
Eu vou deixar você voar
Bater as suas asas pra bem longe de mim
Mas só pra você voltar e toda arrependida me dizer "amor, te quero sim"
Eu vou deixar você voar
Bater as suas asas pra bem longe de mim
Mas só pra você voltar e toda arrependida me dizer "amor, te quero sim"
Luan cantava com os olhos fechados, e eu sabia que ele estava pensando em mim. E pensar que eu fiz ele sofrer, nunca me perdoaria por aquilo. Breno puxou minha mão pois ainda estávamos parados na porta. Olhei pra ele sorrindo:
-Vamos mãe- ele tentou me puxar mas eu neguei.
-Chama seu pai aqui.
Breno saiu correndo e eu entrei na casa de novo. Fiquei em pé perto do sofá. Minutos depois Luan apareceu me encarando surpreso.
-Oi- sorri sem jeito.
-Oi, cê tá bem?
-Eu tô ótima- sorri e comecei a chorar de novo buscando forças pra falar o que eu tinha pra falar de uma vez.
-Não parece- ele se aproximou mas se afastou de novo. Sabia que ele ia limpar minhas lágrimas, ele fazia isso sempre que eu chorava, mas não fez por eu não sei qual o motivo.
-Olha, se eu ainda não disse, que você é um homem bom, você é!- eu já não conseguia controlar meu choro e chegava a soluçar.
-Senta.- apontou pro sofá mas eu neguei- Você quer conversar em outro lugar? Quer ir pro meu quarto?- me puxou mas eu fiz que não com a cabeça novamente
-E se eu ainda não disse que perdoei você, eu perdoei.- continuei falando e ele me olhou ainda sem entender.- E se eu ainda não disse, que eu AMO VOCÊ.- respirei e limpei minhas lágrimas- Eu amo- ele me olhou de um jeito intrigado. Seu olhar estava estático, eu não sabia se aquilo era bom- Eu te amo, Luan.- falei de novo e vi seus olhos começarem a lacrimejar-Alguma coisa mudou em você, e o que aconteceu com você quero que aconteça comigo.
-E vai.- ele sussurrou, limpando minhas lágrimas. Que saudade de sentir sua mão roçando em meu rosto. Coloquei minha mão em cima da dele e alisei devagar de olhos fechados, tentando acreditar.
-É muito tarde pra pedir pra você envelhecer comigo?- ele sorriu no mesmo instante- É muito tarde pra te pedir pra ir até o fim da vida comigo? Ou além dela quem sabe? - dei de ombros.- É muito tarde pra pedir pra você ser mais que um amigo? Ser um anjo que o Senhor enviou pra mim?-
Luan sorriu e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ele se aproximou mais negando e me tomou em seus braços fortes. Acariciou meu rosto de novo e me beijou de uma maneira que demostrava, claramente, que ele ainda me amava. E que saudade que eu estava de seus beijo, toques e carícias...
-De hoje em diante- ele disse enxugando minhas lágrimas- o seu anjo sou eu!
-Sempre foi! E sempre será.- o beijei de novo.
-Você ouviu a música que e cantei agora?- perguntou alisando meu rosto e eu assenti- Eu sabia que você voltaria- me deu um beijo na testa e eu fechei os olhos pra senti-lo.
-Amor te quero sim- sorri e ele também me puxando pra mais um beijo, tão bom quanto os outros dois.
Luan me puxou pra parte de trás da casa, onde entramos sorrindo e de mãos dadas, todos nos olharam surpresos. Nicole correu e me abraçou:
-Vocês voltaram?- assenti abraçando ela que me abraçou mais forte.
Era bom ver meus filhos felizes de novo, sem me recriminar. Melhor que isso, era poder me sentir viva de novo. Eu finalmente me senti completa, como não me sentia a muito tempo. Enquanto abraçava os familiares do Luan pensei o quanto eu perderia, se continuasse com aquela ideia de separação. Mas eu o amava, e estava disposta a mudar tudo, pra viver com ele pelo resto da minha vida, e além dela se possível.
Eu sei que precisava passar por tudo aquilo, pra perceber que ele era sim, o homem da minha vida. Sei, que por mais dolorido que tenha sido pra nós dois, tinha um significado para tudo aquilo.
Nossa história foi regada de amor. Cada dificuldade, cada momento, cada tristeza... tudo serviu pra nos fortalecer e nos ensinar. Com isso eu tive ainda mais certeza de que a fé podia sim mover montanhas! Não só mover, como curar, renovar, assim como tinha sido comigo.
Agora, depois de tudo que aconteceu, no auge da minha "envelhecência", ainda tenho ele ao meu lado, me amando ainda mais que a nossa vida inteira.
Cada dia, um após o outro, fortaleceu o que sentíamos. Hoje eu o amava mais do que ontem, e hoje menos do que o amaria amanhã.
Você percebe que ama alguém quando até com raiva seu coração ainda bate forte quando encontra com ele. Percebe que ama alguém quando um simples sorriso da outra pessoa alegra sua semana inteira. Percebe que ama alguém, quando não se vê junto de mais ninguém, só dele.
Luan salvou minha vida, e não digo isso só pelo transplante, digo no sentido de existir, de ser tudo o que ele foi e é pra mim.
Dizem que só a morte pode separar um amor! Então o nosso era especial, porque ele atravessariam fronteiras, onde somente o céu seria o limite. E disso eu tinha certeza absoluta!
...Fim...
Baseado no filme "Uma prova de Fogo".
O texto que o Luan "escreveu" é da Martha Medeiros com adaptação.
Bom, muitas acharam que eu terminaria a história com eles separados mas que graça teria não me mesmo?
Quando eu tive a ideia de escrever essa fanfic me baseei na minha própria vida, engraçado que hoje, já não gosto do meu amigo, mas quis continuar com a fic porque existem sim, casos de amigos que dão certo e eu acredito mas nisso do que amor a primeira vista.
Queria aproveitar e agradecer por todas que me acompanharam até aqui
Aquelas que estão comigo desde a minha primeira fanfic, também aquelas que descobriram agora.
Me desculpem se não foi como vocês queria, e me desculpa pela demora de postar as vezes.
Eu tinha dito que não escreveria mas fanfic, mas a boa notícia, é que me veio algumas ideias novas, porém, darei um tempo, pra ir escrevendo devagar, e pra quando postar poder postar um por dia no mínimo. Então deixem os contatos de vocês no comentário, número, twitter, facebook, o que for, pra quando eu começar eu avisar todas vocês.
Bom, e aqui me despeço. Espero que tenham gostado e que tenham aprendido algumas coisas, porque sempre se tem algo a aprender com histórias não é verdade?
Mais uma vez agradeço por tudo.
Obrigada, obrigada mesmo. Eu amo vocês